Briga na sessão de legumes
Muita coisa ocorreu em 2017. Star Wars: Os Últimos Jedi foi exibido nos cinemas. O Funk do Gás viralizou. Um jovem no Acre desapareceu, voltou e lançou um livro. Despacito virou a música mais tocada no YouTube. Junto com todos esses acontecimentos (alguns legais, outros não tanto), rolou a compra da rede de supermercados Whole Foods pela Amazon, por USD 13,7 bilhões. Há um ano, Jeff Bezos fazia algumas das maiores redes de supermercados do mundo tremerem, ao anunciar que expandiria suas garras do varejo online para o mundo físico. A Whole Foods, que vinha passando por perrengues, viu suas ações subirem 28% no dia da notícia da aquisição. Já os papéis das concorrentes Walmart, Cotsco e Target sentiram um golpe.
Entrou de carrinho
Acontece que a Whole Foods representa somente 2,5% do mercado de supermercados dos Estados Unidos. Isso porque ataca num segmento bem menor. Os produtos vendidos em suas 470 lojas são para uma parte mais saudável (e mais rica também) da população, já que não contêm gorduras hidrogenadas, sabores artificiais, cores, adoçantes ou conservantes em sua composição. Dentre as três rivais, a principal concorrente da WF seria a Cotsco, que persegue o mesmo público. Mas foi, de longe, o Walmart quem assumiu as dores do varejo tradicional e se empenhou em criar uma verdadeira estratégia à prova de Amazon. Recentemente, por exemplo, sabendo que ela planejava uma entrada à la Bollywood na Índia, a rede americana adquiriu o maior e-commerce de lá, o Flipkart.
De seu lado nessa briga pelo mercado americano, o Walmart tinha o número de lojas. Contando a franquia Sam’s Club, são 4.360 unidades espalhadas pelo país — 90% da população vive a até 10 milhas de distância de uma. Mas a verdade é que, um ano depois, a aquisição da Whole Food não foi nada do que o mercado esperava. O impacto do acordo, na época em que foi anunciado, se provou exagerado. Não que isso tenha sido ruim.
Batalha dos cupons
Como bem definiu um analista entrevistado pela CNN, a compra da WF representou "a big wake-up call" para todo o setor, que estava no modo “devagar e sempre” quando o assunto era a modernização de seus processos. A Costco, que só perde para o Walmart no ranking de maiores varejistas globais, está investindo no seu programa de membership para reter os clientes atuais e atrair novos usuários. Com 93 milhões de membros, que pagam entre USD 60 e USD 120 por ano e uma taxa de renovação que ultrapassa 90%, a estratégia atual da rede está em negociar preços menores com os fornecedores, que aceitam a barganha por causa do fluxo gigante de compras que a rede consegue manter. Já a Target anunciou gastos na ordem de USD 7 bilhões no redesign das suas unidades e lançamento de produtos com sua marca própria, eliminando custos com parceiros. No campo das compras online, a empresa adquiriu a startup de entregas Shipt para competir com o Prime Now & similares. Todo esse esforço para se preparar para a voadora que com certeza viria por parte da empresa de Jeff Bezos. Mas acontece que, até agora, tanto a amazona como a Whole Foods estão quietas.
Mais um dia normal em Seattle
A verdade é que todo mundo esperava Jeff Bezos vestido de tanguinha, empunhando um escudo e gritando “This is Spartaaaaaa!”. Só que não. Um ano depois de sua entrada no setor de supermercados, a Amazon joga seguro: expande sua rede de lojas pouco a pouco, aumentou 3% no faturamento de vendas e priorizou os benefícios que a WF oferece aos assinantes do Amazon Prime. Não é à toa. A modalidade premium garante acesso a entregas mais rápidas, streaming de música e vídeo, dentre outros penduricalhos. Esse “clube de vantagens” bombadão se tornou uma fonte parruda de ganhos para a gigante de Seattle. Em janeiro, o plano mensal foi reajustado de USD 2 para USD 12,99. Quem faz pagamentos anuais recebe um alívio: gasta USD 99. A importância disso tudo é que, só nessa movimentação, a amazona foi capaz de gerar mais USD 300 milhões em arrecadação.
O Jeff é um bom companheiro!?
Não há dúvida de que a negociação faz parte de um plano maior do Leônidas calvo e bilionário para expandir sua marca no longo prazo. Mais uma vez, ao contrário das expectativas, não moveu o inventário da rede de mercearias para dentro de sua loja virtual. E o motivo para essa posição mais conservadora, provavelmente, vem dessa pesquisa realizada pela consultoria financeira Cowen and Company, em 2016. O levantamento revela que só 12% dos consumidores norte-americanos fazem suas compras em mercadinhos online. Ainda não seria o momento? Talvez. De qualquer forma, a entrada de Bezos no setor foi boa para todo mundo. Quer dizer, menos para o Walmart. A ações da Amazon acumulam uma alta de 35% neste ano, e Costco e Target também registram números bons. Já o WMT começou 2018 enfrentando a maior queda de seus papéis em 30 anos e começa a dar sinais de recovery só agora. Para ficar esperto.
Fonte: The Brief
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